sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Dois testemunhas de jeová na parada de ônibus, hieráticos. Perto demais do banco de concreto para que não seja cortesia não ocuparem o assento que vaga de vez em quando e é disputado. Poderiam sentar. Dois inconvenientes: é um banco banguela, daqueles de metal, só sobrou lugar para um e seria indelicado de Helder Whaite não deixar Orson Bilford sentar, e vice-versa; oferecer colo, nem pensar. De mais a mais, é possível que esperem reconhecimentos pelos bons modos. Tubarões, espreitam qualquer velhinha com sacolas levantar um rosto com um pingo de gratidão pra poderem puxar assunto. Difícil dizer se o ônibus furou ou se estão fazendo ponto. As mãos paralelas ao torso, fechando atrás das costas segurando uma bíblia, retesam mais o engomado. O crachá reluz, alinhado com a solicitude ansiosa, com o sorriso afiado. Um celular em um dos bolsos frontais toca, o infarte é quase nítido, simultâneo. Uma gagueira contamina até o que está só pescoçando a conversa. E que balança a cabeça também, várias vezes, imitando o jargão militar organizacional com sotaque do meio-oeste de algum lugar. No geral esses caras respondem até frentista com amém. Começar a chover apresenta um dilema, chegaram mais três deles, estão se reproduzindo, e paira a questão sobre imigrar para debaixo da marquise ou deixar espaço.

1 contos de réis:

Lucas Galvão disse...

Ao ler este texto, me lembrei daquela fala sua sobre o perigo de se escrever duma forma que possa soar enfeitada demais diante de escritores tão jovens que somos.

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