domingo, 2 de janeiro de 2011

Uma folha de diário.

Ontem ouvi seus passos atrás da porta tantas vezes que comecei a achar que era espionagem. Como se você desconfiasse mesmo de mim. E da Joana. Se bem que da Joana você desconfia mesmo, olha ressabiado quando abre a porta pra ela. Pois saiba que ela é supercuidadosa, não machucaria uma mosca. E só porque o pai dela nunca veio falar com você ao portão isso não quer dizer que eles sejam maus. Às vezes eu penso que ele é melhor que você, mas não falo pra você não ficar triste. Com essa mania de perseguição, você é bem capaz de entrar aqui e ler isso. Aí você ficaria triste, que é o que eu não quero. Ontem enxerguei a luz do corredor apagar e acender muitas vezes pela fresta debaixo da porta. Entrou uma sombra no meu quarto que passou rápido pelas coisas e fez elas parecerem fantoches murchos. Não tive medo, acredite mesmo sem ler, a Joana segurou minha mão que nem ela segurou outro dia quando a gente viu aquele velhinho do outro lado da rua empurrando um carrinho azul com florzinhas desenhadas. Ela me ensinou que aquele carrinho se chamava realejo porque tocava música. O velho era encurvado, no ombro dele tinha um papagaio que ria das pessoas. A Joana me prometeu que da próxima vez que ela dormir aqui ela vai me mostrar um caderno que ela tem que tudo que você desenha no caderno vira de verdade. Ela disse que outro dia desenhou um canguru e ele saiu pulando pelo quarto dela.